SÉRIE VISÃO: A nova língua do amor

       
Mesmo que eu falasse a língua dos anjos e dos homens, não entenderia essa nova língua do amor. O mais eterno sentimento em sua mais concreta expressão, a que se materializa quando dois ser se unem em afeto mútuo, ganhou novas e modernas versões com princípios adaptados a uma outra realidade da vida cotidiana do século 21. Essa crônica faz um retrato sobre o sentimento amor em sua atual e contemporânea forma, como ele evoluiu se tornando um novo ser, diferente ao que antes conhecíamos e como ele se tornou tão cantado em verso e prosa, em ditos de uma cultura que se tornou popular.
Como um vírus mutante que se transforma com o tempo e em contato com o organismo humano, o amor também mudou, se tornou mais carnal, mais físico e principalmente mais racional. Hoje, esse sentimento é mais mente e menos inspiração. O relacionamento entre duas pessoas adquiriu novos princípios que regem essa prática essencial da vida humana. São eles o respeito à infidelidade, o desrespeito ao compromisso, o prazer momentâneo acima de tudo, a praticidade da oportunidade, o relacionamento sem história, sem luta ou vitória pela conquista e a regra básica é a da adaptação do sentimento aos interesse de cada um, o amor egoísta.
Na atual conjuntura do sentimento, o maior respeito é a infidelidade. Sim, não ser fiel ao parceiro e ao amor que se diz sentir pela outra pessoa é a prática comum. As facilidades, as variedades e opções dão a todos a oportunidade perfeita e acessível de poder diversificar sem se comprometer. É difícil resistir a essa nova cultura, pois a maioria a segue e como ficar pra trás se todos os seus amigos, a todo momento, contam com satisfação e sabor de vitória, histórias as mais “transloucas” de suas aventuras fora do seu relacionamento estável. Afinal, como diz os ditos populares: “melhor é trair antes que seja traído”; se descobrir que foi traído, “chifre trocado não dói”; o melhor é não querer saber ou acreditar se foi ou está sendo traído, “chifre não existe isso é coisa que botam na sua cabeça”. A perda de valores ganha contornos de comédia. Por Isso, está cada vez mais crescente número de homens e mulheres que optam por não firmarem compromisso com um só parceiro. “Pra quê ficar com um só, se podemos ficar com muitos” e como pensam muitas mulheres “Homem é que nem biscoito vai um vem dezoito” e para os homens “Mulher bonita é que nem melancia, ninguém come sozinho”.
Não existe mais respeito pelo sentimento, por um compromisso firmado, aquele de fidelidade até a morte. Até porque cada vez mais os relacionamentos são casuais e sem formalidades. Pra que casar na igreja com festa e familiares reunidos. Há um medo de se assumir compromissos publicamente, pensa-se “como vai ser se depois não der certo?”, “o que as pessoas vão dizer ou pensar?”, “veja como terminou o casamento dos meus pais!” e “veja o exemplo daquele meu amigo que o cônjuge lhe traiu ou aquele que teve que dividir bens!”. Quanto ao amor, como diz o poeta “Que seja eterno enquanto dure”.
Nestes dias, cada vez mais prevalece a filosofia do prazer acima de tudo, prazer rápido. A era dos “fast food” também no amor. A praticidade de se conseguir satisfação variada e imediata e sem compromisso. Homens e mulheres cada vez mais vivem em busca da variação de parceiros, de experimentarem novas emoções sem que com isso precise se prender a outra pessoa. Com esse novo padrão de comportamento, todos sabem como funciona o jogo, não é preciso a luta para se conquistar ao outro, a história é simples e de enredo corriqueiro e com final conhecido, e mesmo assim todos buscam vivenciar. É comum, nas conversas de bares, homens e mulheres se gabarem de quantos já “pegaram”, “saíram”, “ficaram”. Tudo permissível e sem ciúmes, afinal “ninguém é de ninguém!”.
Mas, há aqueles que neste momento diriam que a grande maioria das pessoas possuem relacionamentos estáveis. Verdade, porém, nesta nova era, são raros os relacionamentos firmados sobre a base somente do sentimento. As pessoas demoram a firmarem compromissos, buscam aqueles que melhor satisfaçam aos seus interesses. É o amor egoísta, que pensa primeiro em seus interesses, contrário ao descrito na célebre epístola do Apóstolo Paulo, nos Coríntios, declamado pelo poeta Fernando Pessoa e cantado por Renato Russo. O sentimento de amar, antes, primordial e até mesmo, única razão, hoje é secundário e depende de outros fatores. O amor de hoje é refém das circunstâncias da vida de cada um, carência, baixa auto-estima, compulsão sexual, ilusões e principalmente interesses econômicos e sociais. O amor se confunde a outros impulsos de sentimento. As pessoas não sabem mais o que sentir por alguém, o que esperar de uma vida em comum. Não há mais parâmetros a se seguir e respeitar. Muitos se perdem em paixões, em sentimentos intensos e sem limites. O que vale é a máxima “Você não vale nada, mas eu gosto de você”.  
Mas o amor é um sentimento indestrutível e eterno. Mesmo mutante ele sobrevive. É Graças a ele que o mundo e a vida sobrevivem na terra. Ele é essencial e quem nos faz ainda humanos, seres pensantes, sensíveis e não animais irracionais. É quem nos aproxima de Deus. Aliás, ai de nós se não fosse a fé e a esperança em Deus, a crença nesse amor ensinado e deixado por Jesus. É evidente que é a falta de amor que tem trazido muito sofrimento a todas as pessoas. Os sintomas se espalham, a insensibilidade, o ódio, os rancores, a ganância e a consequência é o aumento da violência e culmina com tragédias assustadoras.
Salve o amor! O sentimento em sua essência, bondade, carinho, respeito e afeto. Como diz o refrão da canção “é preciso amar“, amar a todos como se não houvesse amanhã, pois já passou da hora. Amar a todos como se fôssemos irmãos, afinal somos irmãos, somos humanos. Amemos! Gostemos e nos gostemos! Numa época de defesa de animais em extinção e do surgimento de organizações de defesa de direitos dos mais diversos motivos, é preciso levantar a campanha de salvação desse sentimento em extinção, o amor, o verdadeiro amor. Defesa dessa instituição importante e essencial a raça humana, tão ou mais que qualquer órgão de defesa de animais ou direitos humanos. Aliás, o maior dos direitos humanos é o amor.  

Alex Gomes
30 abr 2011

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