SÉRIE VISÃO: A religião do mal

Na religião do mal todo dia uma oração é clamada a um dos seus mais devotados santos:

“Violência nossa de cada dia nos dai hoje: Um jovem morto em um estacionamento de universidade, quem sabe duas adolescentes mortas num matagal, um homem morto em um assalto, uma mulher agredida pelo marido ou namorado. Dai-nos também, um ataque terrorista que mate dezenas de pessoas inocentes por simples intolerância, sadismo ou vingança. Dai-nos injúrias e discussões que terminem em agressão e culminem em alguma tragédia. Ah, se for possível que haja muito choro e dor de pais e mães que perderam seus filhos e filhas, ou filhos que nunca mais verão seus pais e que amigos e parentes sofram em funerais de seus queridos. Fazei com que haja muita impunidade, que pouco seja feito para se condenar os criminosos, estes nossos anjos guerreiros que trabalham para promover a nossa doutrina; que líderes sejam insensíveis e cooperem com o crescimento dos nossos dogmas de terror. Que se propague o consumo das drogas, essa nossa hóstia sagrada que tanto destrói vidas. E se algum destemido justiceiro tentar parar nossa luta, que caia antes de se levantar ou, seja corrompido por um dos nossos mais preciosos dons, o dom da ganância. E que não haja paz e a vida seja menosprezada. Assim seja, hoje e sempre até o fim dos nossos últimos tempos, amém!”.

Mais do que um clamor dessa religião do mal, essa oração se cumpre todos os dias e se manisfeta em fatos e se torna real nas grandes cidades do Brasil. Seus sinais são reconhecidos e amplamente divulgados em jornais e por todo tipo de meio de comunicação. Como um culto religioso, vemos sua mensagem se propagar e sentimos a presença do seu deus. De tão crentes da sua verdade, já nem nos surpreendemos mais quando da sua ocorrência perto de nós. Cada vez mais de forma irracional aceitamos sua doutrina. Hoje, até nossos heróis são os vilões, nossos ídolos são os rebeldes, preferimos os inimigos, simpatizamos mais com os antagonistas. O evangelho do mal se propaga rápido e fácil, todos aceitam, mesmo que não concordem, logo se rendem a sua vontade em pensamentos e atitudes, faz parte da natureza humana. Cresce o prazer em fazer aquilo que é maléfico. Tudo que é ruim e errado é louvado. Somos dementadores de nós mesmos. Queremos ser bruxos, hellboys, caveiras. Ser bom não é o que se quer, não traz benefício, não satisfaz, é menosprezado, “O bonzinho morre coitadinho”.
O mal anda livremente pelas ruas, sem ser importunado, somente às vezes tem que combater algum resistente que vem se opor através do uso da força, o que com isso não os difere dos verdadeiros vilãos. E se por acaso o bem sobrepujar o mal e aprisionar algum colaborador, logo se reinvidica um julgamento justo e ele será solto, e livre sairá mais furioso para praticar a sua justiça. As cidades são verdadeiras selvas, ambiente propício aos fanáticos adeptos da prática do mal que como feras saem em busca de tragar a todos os desprotegidos que encontrar.
O mundo jaz no mal. Esse deus do mundo contemporâneo possui muitas facetas e se traveste de diversas formas, mas não se esconde, não foge. Não é utópico, é vivo e cada vez mais real e presente. Ele tem cada dia mais poder ante a passividade dos tolos que nada fazem para pará-lo. A fé no mal só aumenta, enquanto a fé na vida, na esperança e na paz se acaba e se perde diariamente. A moda é tudo que seja errado, a corrupção é fashion. Como isso vai terminar? O que busca tal filosofia? Ela busca seu apocalipse, o dia em que será implantada a anarquia no mundo, cidades sem lei, sem limites, onde só haja sofrimento e dor.
Parece muitas vezes que vivemos num mundo paralelo ao nosso. Os fatos que corriqueiramente estão se revelando a nossa frente beiram ao absurdo de tão incríveis, mas, o pior é que cada vez mais eles são verdadeiros. E assistimos tão passivos que parece até que é um filme e que a qualquer momento vamos nos dar conta que não passou de algo virtual, uma realidade criada, falsa, fictícia. Esse mundo em que estamos situados e a vida a qual insitimos em viver se revela cada vez mais cruel, e chega a ser sádico. A vida contemporânea mais se parece com um grande mercado de negócios, e a empresa do mal, dirigida pelo seu presidente e fundador o diabo, é um grande grupo corporativista que tenta dominar o mercado mundial e se tornar o líder absoluto em todos os ramos e segmentos industriais e comerciais que puder. E nesse sentido, o setor que opera a violência é com certeza a menina dos olhos do presidente. O segmento que mais cresce, que mais dá lucro. Quanto a nós nesse mercado do mal, somos consumidores, telespectadores, fumantes passivos e até investidores. Nessa religão do mal somos adeptos, seguidores ou simplemente ofertas em sacrífício.          

Alex Gomes

Um comentário:

  1. Muito bom, magnifico e de acordo com a nossa realidade, parabéns por essa crônica.

    ResponderExcluir