SÉRIE FATOS: O espetáculo da celebração


O espetáculo que o mundo quer que assistamos, com seus personagens reais e outros criados e moldados, com máscaras, maquiagem e figurino que melhor convir aos interesses da história que se quer contar. Cenários coloridos se misturam a imagens de destruição e servem para distrair o público e tirar o foco do real para o ilusório, para a verdade que se quer que todos acreditem.
Existe uma máxima que diz que uma mentira dita muitas vezes se torna verdade. Silenciosamente, isso se torna cada vez mais uma prática na nossa vida contemporânea moderna. Neste dia 11 de setembro de 2011, vemos todos os meios de comunicação terem como pauta lembrar os ataques terroristas contra os EUA ocorridos a dez anos atrás. Esse fato triste da história mundial é tratado de forma espetaculosamente intencional. Alguns meios de comunicação chegam ao ponto de dar o título à notícia de “celebração do 11 de setembro”. O governo americano prepara homenagens e cerimônias para lembrar os acontecimentos. Então, criam-se heróis e vilões. Criam-se filmes, com uma história central e outras sub-histórias.
A verdade sobre esse terrível acontecimento é mascarada e serve para camuflar outros fatos. O ataque terrorista de 11 de setembro foi na verdade uma atitude insana, covarde e de vingança de um grupo de extremistas contra o governo dos EUA. Não é nenhuma guerra religiosa, entre mulçumanos e cristãos, nem tão pouco do mundo árabe contra o ocidente, como se tenta desenhar. A realidade é que há um mundo que sofre por ódios e rancores sejam religiosos ou territoriais, desavenças culturais, falta de sensibilidade e bom senso entre diversas etnias que culminam em violentos conflitos.
Neste nosso mundo há uma cultura de que na vida temos sempre que confrontar algum inimigo para se alcançar a vitória, combater algum oponente. No futebol, é a torcida adversária a inimiga e o outro time é o rival a ser combatido. O jogo deixa de ser apenas uma competição, algo para se entreter e vira uma guerra. Hoje o esporte que mais cresce no mundo é o MMA, artes marciais mistas, onde dois lutadores competem em um ringue numa luta em que se usam os mais violentos golpes como socos, chutes e cotoveladas. Nos filmes, há sempre um vilão cruel que deve ser morto, se possível da forma mais terrível. Essa mística tem alimentado a humanidade e o imaginário mundial e por isso vemos tanto ódio e intolerância. São policiais contra traficantes, heterossexuais versus homossexuais, entre outros combates. O mundo contemporâneo cria todo dia uma guerra.
É preciso se dizer a todos a verdade. Tratar os fatos como eles devem ser. Toda forma de terrorismo é condenável e deve ser buscado o entendimento, o respeito à vida e a liberdade de fé e de expressão, de escolha, de opinião, de cor e sexo. Deve se chegar ao consenso sobre a definição de áreas territoriais e sobre formas de governos em países e províncias em conflito. Deixar os interesses econômicos de lado e atender ao bem comum. Respeitar os limites entre cada nação. Conscientizar a todos que uma partida de futebol é só um jogo. Que uma luta é um esporte somente. Que um filme é só um entretenimento. Que os únicos inimigos a serem combatidos são e deveriam ser nossos limites, nossos medos, as fraquezas, as dúvidas e as tristezas. Combater a fome, os vícios e tudo que causa a dor humana.
Mas a verdade como ela deve ser, não vende. Ela não cria ilusões e não dá notícia ou enredo para histórias. Por isso é preciso se criar uma nova verdade. Essa nova realidade deve ser atrelada a outros fatos para criar um cenário fantástico. Os EUA atravessam uma das suas maiores crises econômicas, causadas por decisões e medidas que passam inclusive por medidas terroristas e intervenções em outros países. A “celebração” do 11 de setembro tira o foco, ainda que momentaneamente, desse sério momento das instituições financeiras americanas. Desvia a atenção do mundo, do delicado e instável momento político e financeiro que atinge diversos outros acontecimentos pelo mundo, como as mortes na Líbia, as bolsas em queda, a crise na Grécia e na Itália. Mas o que vemos que o mais importante é cultuar a dor, o luto e as mortes do famoso atentado terrorista. Alimentar a pauta do dia com histórias emocionantes. O importante é que o “inimigo” foi morto. E assim, justificar todas as decisões, seja de invasões, ataques e mortes em nações independentes.          
Não importa a violência das grandes cidades, as mortes em assaltos ou no trânsito tão devastador nos nossos dias, ou a tristeza de famílias destruídas pelas drogas e vícios legais como bebidas ou pela depravação moral. Melhor é celebrar as tragédias, do que buscar o equilíbrio de interesses, do que buscar o entendimento que leve a paz e respeito às diferenças, o diálogo que traga soluções sensatas e que amenize os sofrimentos. O respeito à vida humana, a cada uma.
A verdadeira celebração deve ser pelo dia em que for instituído um acordo de amor a vida, de respeito aos direitos humanos e de paz entre as nações. Essa sim deve ser a verdadeira celebração, a verdadeira homenagem e o real memorial que deve ser estendido em honra ao ser humano.
São importantes, bonitas e louváveis todas as homenagens realizadas nesta data e todo memorial erguido para lembrar as vítimas desse atentado terrorista insano, mas, acredito que o mais importante deve ser os atos consequentes após esse acontecimento terrível, ou seja, a maior homenagem deve ser o mundo refletir de forma sensata, a busca em alcançar o entendimento, de se obter toda forma de consenso e equilibrio para se chegar ao fim dos extremismos, dar fim as guerras, conflitos e mortes pelo mundo. O maior espetáculo deve ser em comemoração ao dia em que o mundo encontrou o seu equlíbrio, seu denominador comum no entendimento de valorização e acordo pela vida. Neste dia então, celebremos um verdadeiro espetáculo. Ergamos um real memorial que sirva como marco de um novo mundo.       
   
Alex Gomes
11setembro 2011

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