SÉRIE FATOS: Davi e Golias às avessas




A final do torneio mundial interclubes da FIFA de 2011 entre o time do Barcelona da Espanha e o Santos do Brasil, foi a representação real da clássica história bíblica do confronto entre Davi e Golias, só que às avessas, ou seja, com desfecho contrário a célebre história. Desta vez vimos Golias vencendo Davi de forma impeidosa. Esse massacre futebolístico nos deixou um exemplo a não ser seguindo, a lição do que não se deve fazer quando alguém estiver diante de um oponente muito superior em força e habilidade.
Bem, para aqueles que não lembram ou não conhecem a história bíblica do confronto entre o pequeno pastor de ovelhas e o gigante, vale lembrar. O povo judeu estava em guerra contra o povo filisteu. Para definir a guerra foi estebelecido que cada povo deveria escolher um guerreiro, o melhor combatente de cada lado, que iriam lutar até a morte e aquele que vencesse daria a vitória da batalha a favor do seu povo. Do lado filisteu se apresentou Golias, um guerreiro de grande estatura. Do lado judeu foi grande o temor ao ver o tamanho do oponente, todos os principais guerreiros judeus se aterrorizaram e se acovardaram, não se apresentando ninguém. Golias vendo o temor dos judeus, os afrontava e ofendia, desafiando se não haveria ninguém que teria coragem de o enfrentar. Por fim, um simples pastor de ovelhas, de baixa estatura e que nem soldado era, se indignou e ante a afronta do gigante e em nome do Senhor aceitou o desafio. O confronto ocorreu e com uma funda, espécie de “estilingue”, Davi partiu contra o gigante e o acertou a testa com uma pedra. O gigante caiu morto. O pequeno pastor pegou uma espada e cortou a cabeça dele e venceu a batalha.
Essa história serve até hoje como exemplo de superação, de obstinação, de fé e deixa uma lição de que não importa o tamanho ou a força superior do inimigo, todos podem vencer, mesmo um adversário maior e mais forte. Quantos não usam essa história como ilustração para elevar o moral de uma equipe, para dar ânimo a alguém, como estratégia de combate ou de motivação. Bem, a história é exemplar, mas quando funciona, quando um menor e inferior vence o mais forte. Mas também pode ser reveladora quando o resultado é adverso e o vencedor é o gigante.
Nesse domingo, no confronto da final do mundial de clubes da FIFA, entre o Santos de Neymar e o Barcelona de Messi, embate tão aguardado entre o melhor jogador do mundo e um outro jogador tido como promessa do futebol mundial. Apesar de todo favoritismo do time espanhol, havia uma expectativa de que o time brasileiro poderia surpreender de alguma forma. Sim, era possível a vitória do Santos, é o que se imaginava. Quantas outras finais o time favorito não foi superado? O futebol permite essas superações, seja por uma estratégia certa de um dos treinadores ou por uma ilógica dos deuses do futebol. Mas não foi isso que ocorreu, O Barcelona impôs seu jogo, sem respeitar o advesário, jogando da mesma forma como costuma jogar, com seu toque de bola envolvente, seu entrosamento e com a imensa capacidade e superioridade técnica dos seus jogadores, aos 24 minutos do primeiro tempo já estava vencendo por dois a zero. Ao final do segundo tempo, como um golpe quase definitivo, veio o terceiro gol. Veio o segundo tempo e o Barcelona desfilou seu padrão de jogo já corriqueiro, e com o jogo praticamente definido e sob seu controle até deixou o Santos participar um pouco da partida, mas sem muito susto. Por fim, o time catalão deu o tiro de misericórdia e fez o quarto gol e se consagrou campeão do mundo, ratificando o título de melhor time do mundo. Vale lembrar que no domingo anterior o Barcelona havia vencido seu arquirrival Real Madri por três a um, de virada e em pleno Santiago Bernabeu. ---- Bem, não vou entrar aqui no fator Messi, os fatos falam por si só e acho que não há mais o que se dizer desse jogadoraço!
Mas, analisando o Santos Futebol clube, o time de Muricy Ramalho já entrou respeitando em demasia o advesário. Respeito? Melhor seria dizer com medo do advesário. Foi para o Japão, local dos jogos do torneio interclubes, com um mês de antecedência para treinar e se preparar. Mas o que vimos foi um time despreparado para enfrentar uma equipe da magnitude do Barcelona. Não vimos nenhum sinal de que havia alguma estratégia estudada e definida para superar o advesário. Informações dão conta que o técnico do time paulista mudou o esquema tático, o qual o time estava acostumado a jogar, em especial para esse jogo, isso pode ter causado um desentrosamento. Um grande erro logo contra a equipe espanhola que joga exatamento em cima do seu entrosamento. Outra lembrança é que o clube da Vila abdicou do Campeonato Brasileiro para se preparar para o Mundial, mas a estratégia não surtiu o efeito desejado, o que vimos foram as já conhecidas deficiências da desfesa santista, talvez mais acentuada do que deveria. Envolvido, o time brasileiro assistiu o time espanhol jogar, tocar bola e passear seu futebol. Chego a dizer que o Santos não entrou em campo, pelo menos não para jogar, só para assistir.
Mas voltando a história bíblica do pastor contra o gigante, lembremos do exemplo de Davi. Exemplo superação e de obstinação, que foi seguido de forma contrária pelo Santos. Os jogadores entraram em campo sem garra e sem vontade. O que vimos foram jogadores perplexos ante a habilidade do advesário, admirados com o bom futebol espanhol. Faltou ter na mente que poderia-se tentar suprir a inferioridade técnica com luta e uma maior entrega. Sim, ir em todas a bolas, em todas as divididas, jogar com um pouco mais de coragem e ousadia, até mesmo com uma pitada de raiva, raiva no sentido de superar seus medos e limites. Da forma que vimos, o clube brasileiro já estava derrotado antes mesmo de entrar em campo.
O discuros dos jogadores santistas de que é difícil jogar contra o Barcelona, melhor time do mundo no momento, mais do que um discurso de resignação, soa como uma desculpa pela falta empenho. A declaração de que serviu de ensinamento, de lição para o futebol brasileiro é verdade. O problema que nesta aula de futebol o aluno só assistiu e não participou dela, só ouvindo e observando, de forma passiva e apática. Uma aula assim, por mais que o professor se esforce fica chata e não rende como poderia, não há um grande aproveitamento. Fica a dúvida se o clube paulista aprendeu alguma coisa e se seus jogadores saíaram dessa aula de futebol como aqueles alunos que somente estão presente a aula, mas não assimilam nada. Os jogadores santistas mais pareciam como aqueles soldados judeus intimidados e apreensivos. Talvez, se pudessem nem entrassem em campo, ficariam esperando outros corajosos guerreiros para lutarem no seu lugar. Melhor seria adotar uma estratégia mais realista, jogar “feio” mesmo, se defendendo, buscando não tomar gol, isolando todas as bolas de perto da área, não deixando o Barcelona tocar bola e quem sabe assim, num lance de perigo fazer um gol e talvez até vencer o jogo. Alguns poderiam criticar essa estratégia, mas outros times nesse mesmo tipo de competição já fizeram isso e ficaram na história como campeão.
O que fica disso tudo é uma espécie de fábula da vida moderna, um “Davi e Golias contemporâneo”. Desse jogo “histórico” de futebol fica a lição de como não se deve enfrentar um advesário maior e superior, e se for enfrentar, que se prepare para lutar com ímpeto e vontade, garra e determinação, porque até para perder, se deve perder com digindade. Que fique a lição e o exemplo para o futuro. Fica cada vez mais evidente uma triste e preocupante constatação: o futebol brasileiro vive uma das suas piores entressafras, e nos pegamos admirando o belo futebol de um time espanhol liderado por um argentino.       
   
Alex Gomes
18 dezembro 2011

Nenhum comentário:

Postar um comentário